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Guia Jurídico para Youtubers – Parte 2: Monetização de vídeos e canais

INTRODUÇÃO

Em 6 de abril de 2017, o YouTube alterou as regras de seu Programa de Parcerias (PPY), estabelecendo novos termos para monetização de vídeos em sua plataforma. A partir dessa data, os canais que tiverem menos de 10.000 visualizações em seu conteúdo não poderão mais veicular anúncios, ou seja, o recurso de geração de receitas só poderá ser ativado pelo usuário caso o número de visualizações de seus vídeos atinja o referido número[1].

 

A plataforma alegou que as mudanças foram necessárias em razão de abusos por usuários que realizavam uploads de diversos vídeos famosos para monetizar às custas de conteúdo originado por outro canal. O Youtube afirma que, com a nova medida, centenas de milhares de vídeos que violavam seus termos de serviço foram excluídos e que as novas regras proporcionam maior segurança à própria plataforma, quanto à veracidade do canal criado, bem como melhor fiscalização quanto ao cumprimento das políticas da plataforma e dos anunciantes.

 

O YouTube anunciou ainda que, nas próximas semanas, irá acrescentar um processo de “revisão de criadores de conteúdo” que se inscreverem no Programa de Parcerias para futura monetização. Depois que o usuário atingir 10 mil visualizações no canal, a plataforma irá revisar se as atividades do usuário estão dentro das políticas do site e autorizar a inclusão de anúncios em seus vídeos.

 

O QUE É A MONETIZAÇÃO DE VÍDEOS

A monetização de conteúdos criados para o YouTube é considerada uma fonte de geração de receitas, uma vez que os vídeos veiculam publicidade, podem ser visualizados em escala global e proporcionam uma captação de recursos para o dono do canal através do próprio recurso de monetização e outras fontes como merchandising e promoções feitas pelos próprios canais.

 

O próprio YouTube proporciona uma ferramenta de relatórios (Analytics) que informa o desempenho do canal do usuário, a fim de monitorar seus ganhos com visualizações do conteúdo criado. Como o alcance das obras na plataforma é para um público global, visto que é a maior plataforma de vídeo online do mundo, e o conteúdo original produzido pelos usuários não precisa ser exclusivo, podendo ser veiculado e monetizado em outros sites (Vimeo, Blip, Instagram, entre outros), há possibilidade de ganhos a longo prazo com produção de novos conteúdos.

 

COMO MONETIZAR MEU VÍDEO?

 

Para haver monetização dos vídeos no canal, além de seguir as novas regras de visualização, o usuário deve se inscrever primeiramente no Programa de Parcerias do YouTube (no Brasil esse serviço já se encontra habilitado para utilização). Os critérios de inscrição no PPY são estabelecidos pela própria plataforma e exigem que o vídeo seja original, de qualidade, adequado para anunciantes e de acordo com os Termos de Serviço e Diretrizes da Comunidade[2].

 

Primeiramente o usuário deve fazer login em sua conta no YouTube, acessar o Estúdio de Criação no canto direito, depois selecionar Status e recursos no menu à esquerda e ativar a opção Monetização. Para ativar os anúncios em um vídeo é necessário selecionar a opção gerar receita com meu vídeo e escolher quais anúncios serão ativados (é possível escolher o formato, o posicionamento, a ilustração da publicidade veiculada e em quais dispositivos ela aparecerá). Há anúncios gráficos (ao lado do vídeo), anúncios de sobreposição (banners que ficam sobre o vídeo), anúncios ignoráveis (há possibilidade de fechar a propaganda após, geralmente, 30 segundos) e não ignoráveis (não possuem a opção de fechá-los até o tempo de anúncio acabar). Ainda, é possível ativar a monetização em videos já enviados, apenas selecionando o ícone de geração de receitas na opção Editar ao lado do vídeo.

 

Depois de aceitar os Termos do PPY, é preciso criar ou associar uma conta aprovada do Google AdSense ao canal para gerar receitas e receber os pagamentos devidos. De acordo com os Termos do AdSense, é possível manter apenas uma conta do Google com o mesmo nome de beneficiário e gerar receita em mais de um canal com ela.

 

Para acionar este recurso basta acessar a página de monetização e clicar no recurso Como receberei meu pagamento?. Clicando nesse ícone, o usuário será redirecionado à pagina Associação ao Google AdSense, e basta fazer login na conta do Google que deseja usar e aceitar os Termos. Assim que a conta for ativada, será enviada uma mensagem informando que a conta do Google AdSense foi associada a conta do YouTube, podendo levar até 48 horas para ser ativada totalmente. Caso o usuário não use uma conta já associada e queira criar uma nova, deverá enviar seus dados durante o processo de inscrição. Após esse processo o usuário receberá uma atualização por e-mail contendo seu ID do Google AdSense. É possível, ainda, alterar essa associação, bastando, somente, mudar a conta do Google que o usuário deseja usar.   

 

Após de se inscrever no PPY e associar a conta do YouTube ao AdSense, o usuário deve ativar os anúncios nos vídeos qualificados para tanto. Para isso, o vídeo deve atender aos critérios elencados pelo YouTube para geração de receitas. Ao ativar a exibição de anúncios nos vídeos da plataforma, o usuário deve confirmar que possui os direitos autorais sobre os elementos contidos na obra, podendo ser solicitado pela plataforma informações que comprovem esses direitos.

 

Um vídeo só está apto a receber publicidade se for apropriado para todos os públicos, ou seja, se ele possuir pouco ou nenhum conteúdo impróprio e para maiores no stream de vídeo, na miniatura ou nos metadados (por exemplo, no título do vídeo). Segundo as políticas do site, se o vídeo possuir conteúdo inadequado, o contexto deve ser justificado pelo interesse jornalístico ou cômico da obra, e o usuário que gerou o conteúdo deve ter a intenção de informar ou entreter, não ofender ou chocar. Porém, cabe informar, que certos anunciantes possuem os próprios padrões e requisitos de conteúdo para os vídeos que são selecionados então, mesmo que um conteúdo esteja dentro dos termos do YouTube, ele pode não se encaixar nos termos de determinado anunciante.

 

Normalmente, os vídeos que não estão aptos à monetização incluem conteúdo com conotação sexual, violência, linguagem imprópria, uso e consumo de medicamentos controlados, assuntos relacionados à eventos polêmicos ou tragédias. Contudo, caso um vídeo com esses características seja aprovado (vídeos em modo restrito, por exemplo), ele não poderá ser qualificado para todos os formatos de publicidade disponíveis.

 

O YouTube propõe aos usuários que desejam monetizar seus vídeos maneiras de torná-lo mais adequado para receber anúncios. Ou seja, o contexto do vídeo acaba se tornando mais importante do que sua qualidade técnica. É necessário, por exemplo, seguir as diretrizes da política do site, não usar linguagem ou imagens explícitas, criar conteúdo que atraia anunciantes de marcas que querem se envolver com o conteúdo, entre outros.

 

Feito o upload do vídeo, a plataforma utiliza diversos mecanismos para averiguar se esse é   apropriado para publicidade. São usadas tecnologias e processos de fiscalização para cumprimento das políticas do site. São verificados também diversos recursos do vídeo, como título, metadados e recursos visuais com a finalidade de identificar um eventual contudo impróprio. A partir disso, determina-se o tipo de publicidade pode ser veiculada, havendo segmentação ou exclusão por região do país, tópicos, categorias e adequação de conteúdo.

 

Caso hajam violações das normas para monetização, pode haver a desativação dos anúncios, suspensão da conta AdSense, suspensão do contrato de parcerias PPY, encerramento da conta no YouTube, ou apenas a inclusão de restrição de idade no vídeo, o que pode acarretar na desativação do recurso para geração de receitas e veiculação de anúncios. Contudo, o usuário que fez o upload pode requisitar a revisão da decisão ao YouTube caso acredite que seu vídeo é, de fato, apropriado.

 

O QUE É CONTENT ID?

O Content ID é uma ferramenta do YouTube que facilita a verificação de conteúdo plagiado pelos detentores dos direitos autorais sobre um vídeo. É necessário se inscrever para obter tal serviço e esse acesso é limitado a usuários que tenham direitos autorais sobre a obra. Para um usuário ser aprovado para obtenção do Content ID, ele deve possuir direitos exclusivos sobre parte substancial da obra original, apresentando provas de que o conteúdo é protegido por direitos autorais e pertence ao usuário-proprietário.

 

Os vídeos enviados passam por uma verificação na base de dados de arquivos enviados ao YouTube e, caso uma nova obra tenha correspondências com um vídeo de propriedade de outro usuário, esta receberá uma reivindicação de Content ID. Se o material postado no vídeo corresponder a do proprietário original, esse poderá desativar ou trocar o áudio, bloquear as visualizações, gerar renda compartilhando a receita do usuário que fez o vídeo e restringir as visualizações do conteúdo do proprietário em outras plataformas. É o próprio YouTube que monitora o uso do Content ID e as disputas dele decorrentes, podendo encerrar a parceria YPP com usuários que façam alegações errôneas sobre vídeos semelhantes.

 

E OBRAS DO CREATIVE COMMONS?

Por fim, cabe falar das licenças “Creative Commons”[3], uma ferramenta disponibilizada ao YouTube, na qual os criadores de conteúdo permitem que outras pessoas usufruam de parte de suas obras. A licença Creative Comuns só poderá ser usada se o proprietário do vídeo possuir direitos de licença sobre a obra, de acordo com os termos do “CC-BY”[4], sendo, por exemplo, obras com conteúdo original, vídeos em domínio público e outras obras com licença CC-BY. A plataforma permite que os proprietários marquem seus vídeos com uma licença CC-BY, o que indica que esses podem ser utilizados em vídeos produzidos por outros usuários, mesmo que para fins comerciais, de acordo com os termos da licença. Se um usuário cria determinada obra usando conteúdo licenciado como Creative Commons, os títulos dos vídeos de origem serão mostrados automaticamente abaixo do player.

 

Ao marcar o vídeo como conteúdo original com uma licença Creative Commons, o proprietário da obra concede a toda a comunidade de usuários do YouTube o direito de reutilizar e editar o vídeo e, caso o vídeo tenha alguma reivindicação de Content ID, não será possível para o usuário marcar a obra com a licença

 

E OS VALORES?

O YouTube possui algoritmo que determina os valores atribuídos às exibições de vídeo, tendo esses uma variação de U$ 0,60 a 5 dólares para cada mil visualizações.[5] Para o vídeo ser contabilizado para monetização é preciso que o público assista pelo menos 30 segundos ou clique no anúncio para contar como visualizado, caso contrário não haverá receita derivada da obra. Se o usuário que está assistindo o vídeo tenha o recurso AdBlock ou serviço semelhante (que bloqueia os assúncios do YouTube), a visualização também não consegue ser monetizada.

 

As receitas dos vídeos são auferidas por meio do CPM (“Custo por Mil”), que se refere ao valor que o anunciante paga ao YouTube a cada mil visualizações monetizadas de um vídeo. Nesse caso, não há uma tabela de valores fixos, então os ganhos com publicidade variam de acordo com a relevância do canal e do vídeo que esta sendo veiculado. A média de ganho por CPM é de U$ 1 dólar e alguns centavos.

 

Há também a questão do “revenue share”, isto é, a parcela da receita do vídeo que vai diretamente para o YouTube, porém não há uma divulgação oficial da porcentagem. Segundo reportagem do Business Insider[6], há especulações que 45% do ganho por um vídeo entre diretamente  nas receitas da plataforma. Usuários famosos como o sueco Felix Kjellberg, mais conhecido como PewDiePie, possui mais de 10 bilhões de visualizações em seus vídeos e recebeu, aproximadamente, U$10 milhões de dólares no ano de 2015, sendo que 45% do valor foi repassado diretamente ao YouTube e, com mais 30% de taxas, totalizou U$ 4 milhões de dólares por ano com seu canal.

 

O número de comentários, curtidas ou inscritos não atingem os lucros de um usuário  diretamente. Para um vídeo lucrar é preciso de visualizações e, para isso, é preciso atrair o público  com contudo diversificado; quanto maior o interesse do público, maiores serão as visualizações  de um canal e, consequentemente, esses videos ganharam áreas de maior destaque no site, como na página inicial, na área de pesquisa de vídeos e nas áreas de recomendações. O valor, portanto, varia com esses elementos.

 

Como foi falado anteriormente, o valor de um video monetizado é computado pelo sistema AdSense do Google. Contudo, só é transferido para a conta bancária do usuário caso ele atinja a quantia de U$100 dólares. Do contrário, os valores vão acumulando mês a mês e a quantia só é liberada após atingir a cota citada.

 

Uma possibilidade para usuários que querem lucrar com o YouTube são as “Multi-Channel Networks”, empresas privadas que gerenciam, oferecem suporte, estrutura e mediam transações em troca de porcentagem no ganho dos canais agenciados. Se um usuário se filia a essas empresas, deixa de ser parte do PPY e lida diretamente com a empresa que “administra seu canal”. Algumas dessas empresas são: Vevo, Machinima, Defy Media, Makers Studios, entre outras[7].

 

[1] Disponível em: <https://youtube-creators.googleblog.com/2017/04/introducing-expanded-youtube-partner.html>. Acesso em 7 de Abril de 2017.

[2] Disponível em: <http://www.businessinsider.com/how-to-make-money-on-youtube-2015-9>. Acesso em 18 de Abril de 2017.

[3] Disponível em: <https://br.creativecommons.org/licencas/>. Acesso em 18 de Abril de 2017.

[4] Disponível em: <https://creativecommons.org/licenses/by/3.0/legalcode>. Acesso em 18 de Abril de 2017.

[5] Disponível em: <https://socialblade.com/youtube/user/monetization>. Acesso em 18 de Abril de 2017.

[6] Disponível em: <http://www.businessinsider.com/money-youtube-stars-actually-make-2014-2>. Acesso em 18 de Abril de 2017.

[7] Disponível em: <http://mundoestranho.abril.com.br/cotidiano/quanto-o-youtube-paga-por-pageview/>. Acesso em 18 de Abril de 2017.

 

Foto por Esther Vargas. Em Flickr.

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