Entrevistamos Gustavo Steinberg, diretor do BIG Festival (https://www.bigfestival.com.br/) o maior festival de games da América Latina. Confira a seguir nossa conversa!
1 – O mercado de games no mundo está aquecido? E no Brasil?
Sim. O segmento que mais cresce no audiovisual é o de games. No momento, temos uma mudança de conceitos e paradigmas de mercado bastante interessante. Por exemplo, uma migração do modelo de download de jogos para streaming e assinatura. No Brasil o mercado continua crescendo. Estima-se que metade dos brasileiros são jogadores.
2 – Quais são os principais agentes do mercado de games?
Depende de qual segmento estamos tratando. O mercado de mobile é diferente do mercado para computadores. As empresas que desenvolvem consoles como Nintendo, Microsoft e Sony são agentes importantes. No mobile o número de agentes é mais pulverizado, mas existem as grandes lojas como Apple e Google. Nos PCs a principal loja é Steam. No campo da produção, temos desenvolvedores de diversos tamanhos. Podemos citar como exemplos de grandes: Blizzard, Ubisoft, Riot. Cada segmento é totalmente diferente. Legal mencionar que a Riot lançou recentemente a Riot Forge, para produção de jogos em cima do League of Legends. Existem ainda as editoras, responsáveis pela publicação e promoção de jogos como as tradicionais Konami, SEGA e Tencent. No geral, o setor de games é mais diversificado que o audiovisual tradicional. Existem várias formas de lidar com cada modelo. No caso do Brasil, é mais comum que o desenvolvimento seja voltado para o mobile e PC.
3 – Qual o perfil dos desenvolvedores de games no Brasil?
No Brasil, a maioria dos desenvolvedores de games são pequenos. Mesmo o que se considera médio no Brasil é pequeno se comparado a outros países com mais força nessa área. Estúdios grandes como a E&A e Ubisoft contam com milhares de colaboradores. A capacidade de conquistar espaço é bem diferente. Alguns desenvolvedores prestam serviços para estúdios de fora, ou seja, como se fosse embutido na estrutura do maior. Quando o BIG começou havia 20 ou 30 estúdios. Hoje em dia participam mais de 400. Há um enorme potencial no país. O BIG conseguiu colocar o Brasil no mapa. Ao longo do festival, contamos cerca de 200 empresas que participam das rodadas de negócios. Há estúdios bem pequenos dentro dessa conta de 400, mas vale lembrar que Minecraft começou pequeno – por exemplo. Ao contrário do que acontece no setor audiovisual tradicional, “o curta vale dinheiro”. Ou seja, jogos pequenos podem apresentar um bom rendimento. É bom lembrar também que a ABRAGAMES saiu de 13 empresas associadas pra mais de 150.
4 – Existem políticas públicas no Brasil para desenvolvimento desse setor?
O Brasil chegou a esboçar o desenvolvimento de políticas de apoio ao setor, mas não tivemos uma continuidade consistente. Atualmente, não se sabe o que acontecerá. É louvável que alguns estados e municípios estejam começando a criar suas próprias políticas para o setor. Ainda temos muito o que avançar.
5 – Qual(is) é(são) a(s) demanda(s) comum(ns) dos desenvolvedores em termos de políticas públicas?
Eu diria que há pelo menos três demandas centrais. A primeira é garantir linhas e programas consistentes de financiamento para o desenvolvimento de jogos. A segunda é regulamentar minimamente o setor, por exemplo, de modo a considerar o game como audiovisual para fins de acesso a linhas de financiamento. Finalmente, seria importante desburocratizar e desonerar o segmento. Estavamos falando de uma área que lida diretamente com o mercado internacional e a atual legislação torna muito difícil a venda, atração de recursos e outras operações financeiras – o que acaba estimando empresas a se instalarem fota do país. Para se fazer o desenvolvimento de jogos para console é preciso importar um kit especial de desenvolvimento – o que é praticamente inviável para as pequenas desenvolvedoras pelo custo de importação.
6 – Existe no setor a percepção de que falta alguma regulação ou que alguma norma deva ser alterada?
Há muito o que caminhar. Algumas demandas e questões são parecidas com as que hoje estão em pauta na discussão sobre o VoD. Por exemplo, como podemos dar destaque aos produtos nacionais? Por que não direcionar parte das remessas de lucros ou compras para o exterior sejam revertidas para a indústria nacional?
7 – Outros países no mundo investem no setor? Poderia dar um exemplo?
Nenhum país se fortalece na economia criativa sem uma política pública sólida. Se quer ter uma participação no mercado global, é preciso ter uma política. O Canadá é um exemplo de quem entrou tarde e deu certo. É bom lembrar que o décimo unicórnio brasileiro é de games. Ainda assim, corta-se linha de financiamento de pequenas empresas como no BNDES. Há um potencial enorme no setor. No momento, não parece muita interlocução no governo federal. Apesar da crise do COVID-19, é um bom momento para o Brasil investir e ganhar destaque. Isso porque conseguimos gerar uma base instalada de estúdios, com competência, com entrega de produtos de qualidade e jogos com reconhecimento (comercial e de crítica). Com a valorização do dólar frente ao real, investidores de fora encontram um bom cenário.
8 – Em sua opinião, qual seria a política pública prioritária para o bom desenvolvimento do setor no Brasil?
Uma possibilidade seria fazer algo parecido com o artigo 3º da Lei do Audiovisual. Mas há muito espaço de criação institucional. Vários países podem nos servir de exemplo e já deram sugestões de caminhos.