O IDEA está inaugurando uma série de entrevista com editoras de quadrinhos para mapear a situação do mercado e os principais desafios jurídicos enfrentados pelo setor. Nossa intenção é aprimorar o debate sobre este seguimento e pensar em possíveis políticas e reformulações legislativas que possam incentivar a produção e acesso a esta área da cultura.
1 – Quando e como surgiu a editora? Por que uma editora focada em quadrinhos?
A editora foi aberta ao final de 2006. Eu trabalhava em agência de publicidade e programação visual e já havia uma intenção antiga de abrir uma editora, que foi aliada ao gosto pessoal de histórias em quadrinhos. No início, começamos com obras estrangeiras e aos poucos expandimos nacionais. O foco da Zarabatana está nas histórias de quadrinhos autorais e voltadas ao público adulto. Por esse motivo, nossas vendas se concentram em livrarias e lojas, ao invés de bancas. Já chegamos a publicar doze livros por ano. Atualmente a média é de 5 a 6 obras.
2 – Em sua opinião, qual a situação do mercado editorial de quadrinhos no Brasil? Ele tem crescido nos últimos anos?
Em 2006, na época de abertura da empresa, praticamente não haviam editoras ou publicações nessa categoria em que atuamos. Por um lado, nós percebemos um aumento da oferta, ou seja, do número de títulos e publicações. Por outro, a crise econômica também afeta o mercado editorial. Isso ocorre em diversos pontos da cadeia. Diversas gráficas estão encerrando suas atividades – e não é qualquer gráfica que consegue imprimir uma obra dessa natureza. As distribuidoras têm apresentado dificuldades. Também se tornou famoso o caso de recuperação judicial de grandes redes de livraria. Além disso, existe uma transformação nos hábitos e padrões de leitura do consumidor brasileiro – tanto de redução de consumo quanto de migração para livros digitais, ainda que o público de histórias em quadrinhos pareça se importar mais com a via física das obras.
3 – Em sua opinião, quais são os desafios no estabelecimento de uma editora focada em quadrinhos no Brasil?
A formação de público e a crise no mercado editorial são desafios importantes. A questão da distribuição, em especial, sempre foi um ponto delicado. Para uma editora pequena é bastante difícil administrar a venda realizada diretamente por lojas e livrarias dado o modelo de consignação utilizado. Por esse motivo, as distribuidoras eram um agente importante de pulverização desse acesso às obras. Hoje, a crise afetou também tais distribuidoras, o que reduz a nossa capacidade de oferta das edições.
4 – Em sua opinião, a legislação brasileira dificulta de alguma maneira o desenvolvimento do setor editorial de HQ no Brasil?
A compra e utilização de papel envolve uma certa burocracia nos âmbitos federal e estadual, que envolve o controle para fruição da imunidade dos livros. Não chega a ser algo impeditivo, mas talvez pudesse ser simplificado. Os custos de taxas de conversão e imposto a pagar sobre o licenciamento de obras estrangeiras acaba encarecendo um pouco o produto.
5 – A editora já utilizou alguma política ou programa público de apoio na produção dos quadrinhos? Se sim, qual(is)?
A editora já participou de um edital do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). Porém, temos a sensação de que os editais têm demandado, cada vez mais, uma enorme quantidade de documentos e condições, que acabam por inviabilizar a participação de editoras menores. Ademais, alguns livros chegaram a ser viabilizados pelo PROAC e leis de incentivo de outros estados – nesse último caso, através de artistas nacionais que conseguem a captação e buscam a editora para viabilizar seu trabalho.
6 – Em sua opinião, qual(is) políticas públicas poderiam ser adotadas para incentivar o desenvolvimento do mercado de quadrinhos no Brasil?
Acredito que uma política de formação de leitores voltada aos quadrinhos seja interessante. Também seria desejável um programa de formação de acervos para bibliotecas públicas. Não raro recebermos pedidos de doações de bibliotecas que, infelizmente, não possuem recursos para formar sua própria coleção.