Nos últimos anos, quando falamos de cinema independente, três nomes têm chamado cada vez mais atenção: A24, Neon e MUBI. O trio tem movimentado não apenas o circuito de festivais, mas também a forma como o público consome, valoriza e discute filmes indie.
Seja em Cannes, no Oscar ou em campanhas de marketing nada convencionais, essas empresas têm disputado espaço, reconhecimento e, claro, bilheteria. Mas o que está por trás dessa “treta silenciosa” entre as produtoras mais descoladas do momento?
A ideia desse texto é entender como tudo começou e por que essa rivalidade pode estar definindo o futuro do cinema independente!
O início da revolução: A24
Para entender essa disputa, precisamos voltar a 2012, quando nasceu a A24. Fundada por Daniel Katz, David Fenkel e John Hodges, a produtora começou apenas como distribuidora. A ideia era simples: conectar filmes independentes a um público jovem, ávido por histórias que fugissem dos blockbusters tradicionais de Hollywood.
Nos primeiros anos, títulos como “Spring Breakers” (2013), “Under the Skin” (2013) e “The Witch” (2015) ajudaram a consolidar a marca. Mas a virada de chave aconteceu em 2016, quando a A24 passou a produzir seus próprios filmes. Logo de cara, veio o sucesso estrondoso de “Moonlight”, vencedor de três Oscars, incluindo Melhor Filme.
O diferencial da A24 está na liberdade criativa oferecida aos diretores e em um marketing ousado, que foca quase exclusivamente nas redes sociais. Além disso, a produtora aposta em produtos de merchandise inusitados, como as famosas “luvas de dedos de salsicha” inspiradas no hit “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” (2022).
Apesar de não se prender a um gênero específico, a A24 é especialmente reconhecida pelos seus filmes de terror, como “Hereditário” (2018), “O Farol” (2019) e “Pearl” (2022).
Neon: a concorrente agressiva
A Neon surgiu em 2017 já com bastante ousadia. Assim como a A24, começou distribuindo títulos de impacto como “Colossal” (2016), “Eu, Tonya” (2017) e o fenômeno mundial “Parasita” (2019).
A empresa migrou para a produção em 2022 e, desde então, vem consolidando sua marca, especialmente no gênero terror. Recentemente, a Neon foi responsável por levar “Anora” (2024) a quatro vitórias no Oscar, incluindo Melhor Filme. Outros projetos em destaque são “Longlegs” (2024) e “The Monkey” (2025).
O grande feito da distribuidora é ter dominado o Festival de Cannes: pelo sexto ano consecutivo, a Neon levou para casa o vencedor da Palma de Ouro, de “Parasita” (2019) até “It Was Just an Accident” (2025).
Com uma postura agressiva, a Neon aposta em campanhas ousadas e numa estratégia de risco calculado, mirando prêmios e bilheteria ao mesmo tempo.
MUBI: do streaming para as telonas
Diferente das outras duas, a MUBI ficou conhecida primeiro como serviço de streaming, se destacando por uma curadoria de filmes artísticos, clássicos e produções de nicho. Para muitos cinéfilos, era “a casa do cinema cult”.
Mas a empresa não parou por aí. Recentemente, a MUBI se lançou como produtora e distribuidora. Seu maior destaque até agora foi “A Substância” (2024), vencedor de prêmios importantes como o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Comédia ou Musical (para Demi Moore) e o Oscar de Melhor Maquiagem.
Em Cannes 2025, a MUBI surpreendeu ao financiar e produzir “The Mastermind” (2025), um audacioso filme de assalto estrelado por Josh O’Connor e Alana Haim. O movimento marca uma transição de plataforma de nicho para player global do cinema indie.
A batalha de Cannes e a disputa pelo futuro
Na temporada de Cannes 2025, as três gigantes dominaram. Filmes como “Die My Love”, “Sentimental Value”, “Sirat”, “The Mastermind” e o vencedor da Palma de Ouro, “It Was Just an Accident”, foram disputados — e arrematados — por A24, Neon e MUBI.
Mais do que prêmios, essa disputa é sobre identidade e poder no mercado do cinema.
- A24 aposta no cinema autoral e no culto à sua marca;
- Neon prefere uma estratégia agressiva, comprando títulos de peso e dominando premiações;
- MUBI, por sua vez, foca em construir uma comunidade global de cinéfilos e transformar seu streaming em hub de produções originais.
O que vem por aí
As três produtoras têm estreias de peso em 2025:
- A24 traz “Amores Materialistas”, com Dakota Johnson, Pedro Pascal e Chris Evans, além de “Sorry, Baby” e “Eddington”, novo filme de Ari Aster.
- Neon aposta em “The Monkey”, “Together” e “Sentimental Value”.
- MUBI deposita todas as fichas em “The Mastermind”, que pode consolidar sua posição no mercado de produção.
E quem leva a coroa indie?
Ainda que nenhuma delas assuma uma rivalidade declarada, é inegável que A24, Neon e MUBI disputam os mesmos espaços, seja em festivais, premiações e, principalmente, no coração dos cinéfilos.
A A24 pavimentou o caminho, a Neon desafia com ousadia e a MUBI tenta expandir seu império global. Seja qual for o resultado, essa batalha já está moldando o cinema independente contemporâneo. Ainda não dá para dizer quem realmente vence, mas num páreo tão concorrido, podemos esperar muitas produções para nós, o público, podermos aproveitar.
E você? Qual dessas produtoras indie mais te atrai? A ousadia da A24, a agressividade da Neon ou o estilo global da MUBI?
Imagem: Pôster do filme Parasita (2019) – Divulgação/ CJ Entertainmen