Entrevistamos Danilo Modolo, fundador do canal tokudoc, sobre Tokusatsu e algumas questões jurídicas relacionadas a esse universo
Para os leitores que não conhecem, o que é tokusatsu?
Tokusatsu, de uma forma bem simples e fácil, são filmes de efeitos especiais criados no Japão. É como eles chamam esse gênero que explora monstros gigantes e heróis coloridos. Se fazemos um paralelo com os filmes da Marvel, por exemplo, que em Hollywood são chamados filmes de herói, no Japão seria chamado tokusatsu. Bons exemplos pra ilustrar são Ultraman, Jaspion e Power Rangers. Assim, Tokusatsu é um gênero, tudo produzido dentro deste gênero são franquias específicas. Quem quiser conhecer mais pode conferir os vídeos “O que é tokusatsu” e “Quais são as franquias do tokusatsu” no canal.
Como eles surgiram?
Surgiram como forma de entretenimento e em uma época de expansão do cinema japonês. Gradativamente foram se adaptando conforme o gosto do publico e do mercado. O primeiro considerado um tokusatsu, carinhosamente, é Godzilla. Porém, Ultraman é um marco pelas técnicas utilizadas e pelo desenrolar da história. Hoje, basicamente, são propaganda de brinquedos, pois, as séries são criadas pra vender os produtos para o público infanto-juvenil.
Existe tokusatsu brasileiro?
Existe sim. Inspirados pela séries japonesas, fãs brasileiros criam suas próprias histórias, adaptando a cultura do país. Interessante colocar que essa produção não acontece só em audiovisual, mas com quadrinhos, ilustrações, jogos etc. Os fãs brasileiros geralmente são bem engajados! Aliás, existem fãs assim por todo o mundo, vários países tem produções independentes inspiradas em tokusatsu.
O tokusatsu fez muito sucesso no Brasil com séries como Jaspion, Jiraiya, Black Kamen Rider, Changeman, Flashman e Power Rangers. Porém, temos a impressão que já faz alguns anos que séries desse tipo não encontram espaço na televisão nacional. Isso é verdade? Em sua opinião, por que isso acontece? Tokusatsu ainda é produzido no Japão?
Não faz tento tempo assim. A ultima série transmitida em TV aberta no Brasil foi em 2009. Com as limitações de propaganda infantil, o espaço de programação para esse público acabou se reduzindo. Isso reflete na menor disponibilidade de tokusatsu nos canais.
Por outro lado, hoje temos os serviços de streaming e youtube, que facilitam bastante o acesso, ainda que nem sempre de forma oficial. As séries são produzidas anualmente por lá e chegam no Brasil basicamente pela internet. Existem grupos de fãs e entusiastas que legendam os episódios para o português.
Em direitos autorais, existe uma grande discussão sobre a proteção de “formatos” de programas televisivos. Você conhece outras séries, jogos, programas e conteúdos inspirados em tokusatsu?
Esse gênero segue um formato bem simples: herói colorido que derrotam monstros. O que diferencia uma da outra é a trama e a maneira como ela é apresentada e se desenvolve. As franquias desenvolvidas tem padrões ou nomes que são específicos. De alguma forma, todos os meios do entretenimento se influenciam e dá pra achar muitas referências ou influências de tokusatsu na cultura pop – inclusive fora de produções japonesas.
No Brasil, uma desenvolvedora brasileira lançou o game “Chroma Squad”, baseado nas séries chamadas de super sentai (changeman, flashman, power rangers). Porém, parece que a empresa estrangeira titular dessas séries questionou a possibilidade de exploração do jogo sem a devida licença. Você chegou a acompanhar esse caso? Como costuma ser a postura das empresas japonesas com essas iniciativas inspiradas?
Creio eu que o maior problema neste caso foi a grande a aproximação entre o jogo e as séries. A inspiração ficou muito explícita e vários elementos eram semelhantes aos do produto original, indo além da mera paródia. Como o alarde depois do lançamento foi grande, a detentora barrou a exploração, alegando “cópia”. Costuma-se dizer que os donos das séries são bem restritos com questões de direitos autorais. Muitas vezes, só de se colocar um trecho de vídeos das séries nas redes já recebemos mensagens sobre a questão dos direitos autorais. Me parece que o importante é desenvolver personagens, trama e outros elementos criativos originais, com inspiração e não apenas cópia das séries já existentes.
Você tem notícia de empresas que tentaram trazer mais conteúdos e produtos de tokusatsu para o Brasil mas encontraram dificuldades de negociação, licenciamento e contratação?
Sim. Muita coisa não aconteceu pela barreira de direitos, valores e propostas. Como mencionei antes, as empresas são bem restritivas. Por vezes, o produto é pensado para publico específico. Por isso que, por exemplo, Power Rangers é trabalhado diferente e há uma adaptação do conteúdo original. Mas há dificuldade dos dois lados. Ao chegar no Brasil, esses produtos tem hoje, o problema da exploração comercial, pelas restrições da TV e pelo apelo comercial que é bastante diferente de décadas atrás. Acredito eu que, exatamente por isso, a dificuldade maior é o cenário regulatório e econômico no Brasil, do que as tratativas com os japoneses em si.
Você conhece algum grande processo ou briga jurídica envolvendo o universo do tokusatsu?
A briga mais duradoura envolve o seriado Ultraman. A empresa tailandesa Chaiyo Productions alegava possuir os direitos sobre o herói e de várias de suas séries derivadas desde os anos 70, sem restrições. A Tsuburaya Productions, empresa japonesa responsável pela criação do personagem, por sua vez, tentava barrar e controlar a utilização da marca e demais produtos ligados à série. Depois de muitos anos, recentemente, a Tsuburaya saiu vencedora no processo.