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10 provas da existência do machismo no cinema

Quando dizemos que nossa sociedade é machista e que a desigualdade de gênero está em todos os espaços, não faltam exemplos que comprovem esta afirmação. Podemos citar o âmbito doméstico, sexual, trabalhista, econômico, cultural. E com o cinema não é diferente.

E quando dizemos que o cinema também é machista, não nos referimos apenas ao conteúdo cinematográfico produzido – embora aí esteja uma das grandes demonstrações -, mas também à forma como ele opera e se estrutura. Trazemos então 10 provas da existência do machismo no mundo do cinema.

 

1) As personagens femininas são constantemente estereotipadas

Mudam os títulos, mudam os enredos, mas as personagens femininas são sempre as mesmas. Elas raramente são exploradas enquanto seres humanos complexos e com auto determinação. Personagens femininas existem em grande parte dos filmes com um único propósito: servir ao homem. Mesmo que elas sejam a personagem principal do filme, sua existência não está completa sem uma figura masculina.

Aqui podemos exemplificar os tipos mais clichês de personagens femininas:

a) A garota diferente. Ela não é como todas as outras. Tem um jeitinho meio desastrado, descolada, divertida. A função dela no filme é transformar a vida da personagem masculina – mesmo quando ele é coadjuvante. E por que é machista retratar mulheres dessa forma? Primeiro porque cria uma ilusão de que a mulher precisa ser diferente das demais para conquistar um homem. Isso acirra a rivalidade entre as mulheres, com a constante necessidade de diminuir as outras para se sentir melhor. Segundo porque cria um estereótipo do que você precisa fazer para ser “descolada”. Além de que esse retrato exclui toda a autonomia feminina, que sempre precisa de um homem para ter qualquer destaque – mesmo em sua própria vida pessoal.

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500 dias com ela

b) A histérica. Ela é louca, desequilibrada. Ao contrário da garota diferente, essa personagem serve para atrapalhar a vida do pobre e bom moço do filme. Geralmente ela é colocada em contraponto com a garota descolada, que vem para transformar a vida daquele rapaz e mostrar-lhe o que é o amor.

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Meia-Noite em Paris

c) A profissional infeliz. Quando o sucesso profissional feminino é mostrado nas telas, sempre é com uma mensagem ao final: de que é uma realidade que não vale a pena. Não vale a pena a mulher não corresponder ao seu tradicional papel de mãe, esposa ou jovem apaixonada. Certamente seu sucesso profissional vem cercado de muita abnegação e infelicidade. O homem bem sucedido não tem esse mesmo tratamento.

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O diabo veste prada

d) A gostosona. Em geral a única mulher no meio de um monte de homens, ela não tem de fato protagonismo, e funciona apenas para testar a heterossexualidade das personagens masculinas envolvidas. Frequentemente é uma mulher que já está associada a algum dos protagonistas ou então que é fonte de tensão sexual para os homens envolvidos. Suas falas são completamente insignificantes, sua participação secundária – sua presença no enredo serve apenas para atiçar a imaginação dos espectadores.

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Os vingadores

 

2) As personagens femininas existem para ancorar as masculinas

Poucas são as tramas em que as mulheres de fato são personagens independentes que conseguem existir sem ser comparadas a alguma personagem masculina. Mesmo quando a protagonista é uma mulher, muitas vezes a história se restringe à relação que ela estabelece com os homens, em geral com um parceiro romântico. Quando a personagem principal é um homem, a mulher fica mais destacadamente marcada como seu acessório dramático. As mulheres, assim, existem em função do homem e sua densidade psicológica e afetiva é frequentemente subdesenvolvida. Raros são os filmes em que a mulher tem protagonismo em sua própria história, contando com uma estrutura psicologicamente desenvolvida, sendo retratadas enquanto seres humanos verdadeiramente autônomos.

 

3) Há pouca participação das mulheres nos filmes

Avaliando essa questão do papel insignificante que conferem às mulheres no cinema, foi elaborado um teste, o Teste de Bechdel, que busca entender como os papeis e suas respectivas importâncias são distribuídos no enredo. São três pequenas perguntas que devem ser respondidas para que um filme possa ser aprovado nesse teste:

1- O filme tem pelo menos duas mulheres? Elas têm nome?

2- Elas conversam uma com a outra?

3- Sua conversa é sobre alguma coisa que não seja um homem?

É impressionante observar como são poucos os filmes que de fato passam por esse tipo de teste.

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Histórias cruzadas: um filme que passa no teste de Bechdel

 

4) Hipersexualização e objetificação da mulher

A sexualização do corpo feminino nos filmes é completamente banalizada. Tente se lembrar quando foi a última vez que você assistiu a um filme no qual o corpo não era um elemento relevante. Os filmes reproduzem essa visão que a sociedade tem a respeito das mulheres e de seus corpos. O que se valoriza são corpos dentro dos padrões de beleza, que são expostos de maneira completamente irrelevante para trama, apenas para o prazer dos espectadores. Desde usar roupas sensuais até a nudez explícita em cenas de sexo, o corpo feminino é completamente utilizado pela indústria cinematográfica, a qual não poupa sequer meninas mais jovens.

 

5) Aging out: Atrizes com mais de 40 anos vão perdendo espaço nos filmes

Envelhecer é natural. No entanto, o tratamento que o cinema dá aos homens e às mulheres nesse sentido reflete a grande desigualdade de gênero presente no cinema. Não nos faltam exemplos para comprovar como os homens mais velhos se tornam galãs: Richard Gere, George Clooney, Brad Pitt… O mesmo não se verifica com as mulheres. Na medida em que vão envelhecendo, os papeis das mulheres vão se tornando cada vez mais secundários e sempre restritos às mesmas posições tradicionais. Se quando a mulher é jovem verificamos que há uma hipersexualização de seu corpo, às mulheres mais velhas é completamente negada qualquer sexualidade.

 

6) Ainda vemos a distinção entre filmes de “mulherzinha” e filmes para homens

Mulheres gostam de comédia romântica e homens gostam de filme de ação. Esse é um estereótipo que reforça as desigualdades de gênero, na medida em que divide o que é coisa de menina e o que é coisa de menino, de forma que o próprio enredo desses filmes são feitos de forma a reproduzir todos os tópicos já discutidos acima: a hiperssexualização das mulheres nos filmes “para homens”, a dependência da personagem feminina à masculina e o roteiro de “como uma mulher deve ser para agradar um homem” nos filmes “de mulher”, entre outros.

 

7) Mulheres no cinema ganham menos do que homens

É claro que grandes produções cinematográficas geram milhões de dólares de lucros. No entanto, apesar de ser um mercado bastante privilegiado, ainda se vê uma grande desigualdade salarial entre os atores e as atrizes. Na cerimônia do Oscar de 2015, a atriz Patricia Arquette se manifestou requerendo igualdade salarial para homens e mulheres. Em 2016, a diferença entre os salários do ator (Dwayne Johnson) e da atriz (Jennifer Lawrence) mais bem pagos de Hollywood foi de quase US$ 20 milhões. Mesmo em filmes em que o ator a atriz dividem protagonismo e possuem mesmo grau de experiência de carreira, é comum que o homem ganhe mais do que a mulher. Um exemplo recente foi da atriz Robin Wright, que interpreta Claire Underwood na série House of Cards, que exigiu receber o mesmo salário que seu colega, Kevin Spacey, que interpreta o presidente norte americano e com o qual possui mesmo grau de aparição e protagonismo.

 

Isso se reproduz também na questão racial: profissionais negros ganham menos do que os seus colegas brancos. No Brasil, a mesma lógica se mantém, seja na televisão ou no cinema.

 

8) Quase não há diretoras mulheres

Não se trata de haver poucas mulheres interessadas em conduzir as filmagens de longas. As mulheres têm suas chances de efetivamente chegar a esses cargos tolhidas pela própria indústria cinematográfica. No caso de Hollywood, mulheres criaram a Aliança de Mulheres Diretoras (Alliance of Women Directors) em 1997, para combater esse tipo de discriminação e fortalecer a presença dessas profissionais nesse setor. Para se ter uma ideia, a primeira e única vez que uma mulher ganhou um Oscar de melhor direção foi em 2010 (Kathryn Bigelow, com o filme “Guerra ao Terror”).

 

9) A participação feminina nas premiações é sempre desvalorizada

Sem adentrar no mérito do tópico acima, em que apenas uma vez uma mulher ganhou uma premiação do Oscar por melhor direção, temos ainda outros exemplos de como existe um machismo (não tão) velado nesse tipo de cerimônia. Os prêmios de Melhor Atriz e Atriz Coadjuvante sempre aparecem como menos importantes, tanto na lista de indicados quanto na dos vencedores, em relação aos de Ator e Ator Coadjuvante. Além disso, o host do Oscar é quase sempre homem. Desde a primeira sua primeira edição, em 1929, tivemos apenas cinco cerimônias apresentadas exclusivamente por uma mulher, sendo que apenas duas hosts protagonizaram estas edições: Whoopi Goldberg e Ellen DeGeneres. Na maioria das vezes, quando uma mulher apresenta um Oscar, está sempre acompanhada por outro apresentador homem, a exemplo de Anne Hathaway, que foi host da premiação de 2012 junto com James Franco.

 

10) A maior parte dos membros da Academia são homens

A lista de cerca de 6.000 membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, organizadora da cerimônia anual do Oscar, nunca foi divulgada, mas um estudo de 2012 do jornal Los Angeles Times apontou que quase 77% dos membros eram homens, sendo 94% deles brancos. E esta composição certamente não se dá pela falta de competência ou interesse de mulheres em participar da Academia, mas por uma estrutura que privilegia um determinado gênero e raça em detrimento dos demais.

 

Para encerarmos e não restar qualquer dúvida de tudo isso que estamos falando, copiamos abaixo alguns infográficos bastante interessantes sobre o assunto.

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Fonte: Statista

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Fonte: New York Film Academy, The Vagenda

Vamos juntas?

 

Photo: Alice Guy-Blaché, primeira cineasta do mundo. In: HF Magazine.

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